quarta-feira, 8 de junho de 2011

CULTURA E SOCIEDADE


(Texto de Sociologia - 3º ano do Ensino Médio, 2º bimestre)


Para as Ciências Sociais, o conceito de cultura significa o conjunto de crenças, regras, manifestações artísticas, técnicas, tradições, ensinamentos e costumes produzidos e transmitidos no interior de uma sociedade.
1. O papel da educação na transmissão da cultura.
A aquisição e a perpetuação da cultura é um processo social, resultante da aprendizagem. Cada sociedade transmite às novas gerações o patrimônio cultural que recebeu de seus antepassados. Por isso, a cultura é também chamada de herança social.
Nas sociedades em que não há escolas, a transmissão se dá por meio da família de convivência com o grupo adulto. Trata-se de uma educação informal ou assistemática.
Nas sociedades onde há escolas, estas se encarregam de completar a transmissão da cultura iniciada pela família e outros grupos sociais. Trata-se da educação formal ou sistemática.
2. Identidade cultural
Cada sociedade elabora sua própria cultura ao longo da história e recebe a influência de outras culturas. Noutras palavras, não há sociedade sem cultura. Esta pode ser entendida como um estilo de vida de próprio, um modo de vida particular que todas as sociedades desenvolvem e que caracteriza cada uma delas. Nesse sentido, os indivíduos que partilham a mesma cultura apresentam o que se chama de identidade cultural. É ela que faz como que o individuo desenvolva o sentimento de pertencimento a uma comunidade, a uma sociedade, a uma nação, a uma cultura.
3. O aspecto material e o não-material da cultura.
A cultura material consiste em todo tipo de utensílios produzidos em uma sociedade – ferramentas, instrumentos, máquinas, hábitos alimentares, habitação etc. – e interfere diretamente em seu estilo de vida. Já a cultura não-material abrange todos os aspectos morais e intelectuais da sociedade, tais como: normas sociais, religião, costumes, ideologia, ciências, artes, folclore etc.
Uma das manifestações da cultura não-material de maior interesse para o antropólogo é o folclore. O que é o folclore? Para alguns estudiosos, folclore é tudo que o homem do povo faz e produz como tradição. Nas palavras do folclorista brasileiro Câmara Cascudo, folclore é “a cultura do popular tornada normativa pela tradição”.
Existe uma interdependência estreita e constante entre a cultura material e cultura não-material. Essa interdependência entre esses dois aspectos da é intrínseca a qualquer cultura, pois um grupo só pode realizar sua cultura não-material apoiado em meios concretos de expressão que fazem parte de suas cultura material.
4. Componentes da cultura
Os principais aspectos ou componentes da cultura são: os traços culturais, o complexo cultural, a área cultural, o padrão cultural e a subcultura.
4.1. Traço cultural: é o menor componente representativo de uma cultura. Os traços culturais são componentes mais simples de uma cultura, são unidades de uma cultural, portanto só tem significado quando considerados dentro de uma cultura específica. Portanto, só quando consideramos o conjunto da cultura é que podemos entender um determinado traço cultural. Um exemplo de traço cultural pode ser: O cocar de penas usado por nossos índios. Ele próprio é constituído de partes menores, as penas usadas na confecção, mas as penas só serão um traço cultural quando reunidas na foram de um cocar.
4.2. Complexo cultural: é a combinação dos traços culturais em torno de uma atividade básica. O carnaval, por exemplo, é um complexo cultural que reúne um grupo de traços culturais relacionando-os uns com os outros: carros alegóricos, música, dança, trios elétricos, desfile etc. O futebol que pode ser desmembrado em vários traços culturais: a bola, o campo, o juiz, os jogadores, a torcida, as regas do jogo etc.
4.3. Área cultural: a região em que predominam determinados complexos culturais forma uma área cultural. Está é, portanto, o espaço geográfico no qual se manifesta uma certa cultura. Os grupos humanos localizados em determinada área cultural apresentam grandes semelhanças quando aos traços e complexos culturais.
Quando diversas culturas, de diferentes origens, se encontram em uma mesma área cultural, e entre elas se desenvolve uma relação de simbiose e respeito mútuo, temos uma situação multicultural.
No Brasil não temos ainda uma situação multicultural. Existem, sim, miscigenação racial e sincretismo cultural, mas ainda não se pode falar em multiculturalismo, pois convivemos com manifestações de racismo, preconceito e discriminação. Apesar disso, é inegável que a miscigenação deu origem a uma fusão de culturas.
4.4. Padrão cultural: é o conjunto de normas que rege o comportamento dos indivíduos da determinada cultura ou sociedade. Assim, quando os membros de uma sociedade agem de uma mesma forma, estão expressando os padrões culturais daquele grupo social. Por exemplo, o casamento monogâmico é um dos padrões culturais da sociedade brasileira.
4.5. Subcultura: Segundo Vila Nova (1992), “na linguagem sociológica, ao contrário do uso que se faz da palavra na linguagem do senso comum, subcultura na significa cultura inferior, pois, como vimos, não é tarefa da sociologia julgar os fenômenos da sociedade. Subcultura significa parte de uma cultura. As subculturas, sendo diferentes do todo, não são, contudo, independentes da cultura total” (p.49).
A ocorrência de subculturas não se limita a diferenças regionais: exemplo cultura nordestina, cultura indiana, mas pode se verificar na relação de gerações. Os jovens, por exemplo, criam costumes e modos de vida radicalmente distintos da norma adulta.
5. O Crescimento do patrimônio cultural
Cada geração passa por processos de aprendizagem, nos quais assimila a cultura de seu tempo e se torna apta a enriquecer o patrimônio cultural das gerações futuras. É na capacidade que os grupos têm de perpetuar e acrescentar novos valores à cultura que reside à possibilidade de progresso. Por mais viva e inventiva que seja uma nova cultura, as gerações não rompem inteiramente com seu passado.
5.1. Invenção e difusão cultural. Em geral, o enriquecimento patrimonial de uma cultura se faz por meio de dois processos: a invenção e a difusão cultural. A invenção é a combinação de traços já existentes, dando como resultado um traço cultural novo. Muitas vezes, as invenções acarretam mudanças amplas e profundas em toda a cultura.
Alguns traços culturais, como uma nova moda o uso de um equipamento recentemente inventado, difundem-se não só na sociedade em que tiveram origem, mas também entre culturas diferentes, geralmente através dos meios de comunicação. Quando isso ocorre, dizemos que está havendo um processo de difusão cultural. Pode-se afirmar que o enriquecimento cultural se verifica mais por difusão do que por invenção. Assim, a cultura é o somatório de todas as realizações das gerações passadas que se sucederam no tempo, mas as realizações de gerações presente.
5.2. Retardamento cultural: as Mudanças dos diversos componentes da cultura não acontecem no mesmo ritmo: alguns se transformam mais rapidamente do que outros. Essa diferença de ritmo provoca descompassos entre os diversos componentes da cultura.
Toda vez que há um desequilíbrio entre os diferentes aspectos da cultura, pode-se falar de retardamento cultural.
6. Aculturação: contato e mudança cultural.
Para Sebastião Vila Nova (1992), “o processo de fusão de culturas em contato através de troca de seus padrões e da influência mútua é denominado, em sociologia, de aculturação ou transculturação” (p.48).
Um exemplo pode ser a processo de colonização do Brasil, durante o qual houve intenso contato entre a cultura do conquistador português e as culturas dos povos indígenas e dos africanos trazidos como escravos.
Em decorrência desse contato, ocorreram modificações tanto na cultura dos europeus portugueses recém-chegados – que assumiram muitos traços culturais dos outros povos – quanto na dos indígenas a africanos, que foram dominados e perderam muitas de suas características. Desse processo de contato e mudança cultural – conhecido como aculturação – resultou a cultura brasileira.
6.1. Marginalidade cultural. Quando duas culturas entram em contato, podem ocorre – além da aculturação – conflitos emocionais nos indivíduos que pertencem a ambas as culturas.
Esses conflitos têm origem na insegurança que as pessoas sentem diante de uma cultura diferente da sua. Aqueles que não conseguem se integrar totalmente a nenhuma das culturas que os rodeia ficam à margem da sociedade. A esse fenômeno dá-se o nome de marginalidade cultural.
7. Contracultura
Nas sociedades contemporâneas encontramos pessoas que contestam certos valores culturais vigentes, opondo-se radicalmente a eles, num movimento chamado de contracultura.
Na década de 1950, os estados Unidos conheceram a geração beat, que contestava o otimismo consumista do pós-guerra norte-americana, a ingenuidade que os filmes de Hollywood apregoavam, o anticomunismo generalizado e a falta de um pensamento crítico.
Na década de 1960, surgiu o movimento hippie. Também um movimento de contracultura, porque se opunha radicalmente aos valores culturais considerados importantes na sociedade ocidental: o trabalho, o patriotismo, a acumulação de riquezas e a ascensão social.
8. Socialização e controle social
Segundo o sociólogo norte-americano G. Smith Russel, “nove décimos de tudo o que você faz, diz, pensa, sente, desde que se levanta de manhã cedo até que vai para cama dormir, você diz, faz, pensa, sente não como expressão própria, independente, mas em conformidade inconsciente e sem crítica com regras, regulamentos, hábitos grupais, padrões, códigos, estilos e sensações que existam muito antes que você nascesse”. Já vimos que a sociabilidade – tendência natural da espécie humana para viver em sociedade – é desenvolvida por meio do processo de socialização. A socialização é o ato de transmitir ao indivíduo, de levá-lo a assimilar e introjetar os padrões culturais da sociedade. É também um processo social abrangente, pois afeta direta ou indiretamente todos os indivíduos que vivem em uma determinada sociedade.
O maior instrumento de socialização é o controle social, que pode assumir diversas formas. O controle social são as formas pelas quais a sociedade introjeta os valores do grupo na mente de seus membros, para evitar que adotem um comportamento divergente. O principal objetivo do controle social é fazer com que cada indivíduo tenha o comportamento socialmente esperado.
A primeira agência de controle social é a família. Desde que nasce, acriança é orientada, educada e moldada pelo grupo familiar. Depois pela Igreja, pela escola e pelo Estado: são todos agências formais ou institucionalizadas de controle social.
8.1. Tipos de Controle social. O controle social pode ser difuso (informal) ou institucionalizado (formal). Nas comunidades isoladas e pequenas, o controle social é difuso. Nas sociedades complexas, o controle social é institucionalizado ou formal, isto é, há órgãos e instituições sociais encarregados de sua aplicação. As sanções também podem ser difusas ou organizadas, dependendo do tipo de controle social. Nas sociedades modernas, mais complexas, aumenta a presença da instituição jurídica, da instituição policial e do estado, em substituição aos controles espontâneos, antes exercidos pela família e pelos membros da comunidade.
8.2. Funções do controle social. Nas sociedades modernas os sistemas de controle social são quase todos totalmente institucionalizados, isto é, dependem mais de leis e regras estabelecidas do que de normas impostas pela tradição. Ao mesmo tempo, á medida que as sociedades vão se tornando mais complexas, os sistemas de controle passam a assumir diferentes funções. Estas não se impõem meramente para punir ações ilícitas ou fazer valer determinadas normas e padrões, mas também a finalidade de manter o equilíbrio da sociedade e de dar proteção social efetiva aos seus membros socialmente desamparados.
De modo geral, podemos falar de três funções de controle social:
·                           A de ordem social: ligam-se à aplicação de normas e de leis. Na sociedade moderna, essas funções são desempenhadas pelo Estado, com seus órgãos específicos de caráter repressivo ou jurídico, como a polícia e os tribunais de justiça;
·                           As de proteção social: relacionam-se ao cumprimento de normas que beneficiam setores menos protegidos da sociedade. Entre elas, estão: Previdência social, Proteção da mulher, criança e idosos...
·                           A de eficiência social: estão relacionadas com regras e procedimentos que levem os indivíduos a contribuir de forma produtiva para o bem-estar e o desenvolvimento da sociedade.
·         (OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução à Sociologia. 25ªed. reform. e atual. São Paulo, Ática, 2004, pp. 137-150. [Texto adaptado com informações de vila nova])

7 comentários:

  1. Caro Robertinho,
    agradeço a sua visita a esse espaço virtual que se propõe ser um "lugar" para fazer amigos através do texto.
    Abraço,
    Prof.: Epitácio Rodrigues

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  3. Gostei muito da exposição sobre o tema componentes da cultura, foi de grande ajuda. Parabéns.

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