Filosofia: 2º Ano


POLÍTICA, POLITICAGEM, CIÊNCIA POLÍTICA E FILOSOFIA POLÍTICA

Epitácio Rodrigues

O que é política? Qual a diferença entre política, politicagem, Ciência Política e Filosofia Política? Nesta aula vamos abordar essas diferenças para deixar mais claro em que consiste a política e seus principais elementos. Também para ajudar a entender a importância da reflexão filosófica sobre a política.
Nos dicionários de língua portuguesa, a palavra política, “arte ou ciência de governar”; 2. “Aplicação desta arte nos negócios internos da nação (política interna) ou nos negócios externos (política externa)”; 3. “Prática ou profissão de conduzir negócios políticos.” Deve-se entender o conjunto de atividades voltadas à administração dos negócios públicos, tendo em vista o bem comum. O filósofo francês, André Comte-Sponville inúmeras vezes define a política como uma gestão não guerreira de conflitos, alianças e relações de poder no âmbito coletivo, de toda uma sociedade.[1] São, portanto, elementos da definição de política: a noção de governo e gestão; o poder como elemento de exercício de gestão; e o caráter coletivo dessa atuação.
Numa sociedade democrática, como é o caso da nossa, chamamos de políticos, em sentido estrito, aqueles que se ocupam mais diretamente das atividades relacionadas à administração dos negócios públicos. Porém, em sentido mais amplo, todos nós somos atores políticos, na medida em que compete também a nós eleger, acompanhar e exigir que os recursos públicos, os projetos de leis sejam voltados ao atendimento das necessidades de toda a coletividade.
Por isso, quando o poder de administrar os negócios públicos é utilizado para beneficiar apenas o detentor do poder ou seus pares, não se trata mais de política, mas de politicagem. A politicagem é a corrupção da finalidade política, na medida em que a administração dos negócios ou bens públicos não está mais voltada ao benefício da coletividade e sim à satisfação de interesses particulares e pessoais dos gestores.
A política, nesse sentido, é uma atividade ou conjuntos de ações. Possui um caráter acentuadamente prático. Porém, existem saberes especializados que se ocupam com o estudo da atividade política. A Ciência Política é uma das Ciências Sociais que tem como objeto de estudo o conjunto de ações que compõem o universo da política e seus atores. São alguns dos temas abordados pela Ciência política: a distribuição de poder na sociedade, a descrição e analisa dos sistemas políticos; a observação do comportamento político e dos mecanismos eleitorais, as formas de governo.
Outro ramo do conhecimento que se dedica ao estudo da política é Filosofia. A Filosofia da política (ou Filosofia política) é um campo da Filosofia que estuda racionalmente o fenômeno político e suas características, as instituições sociais, as práticas políticas, os regimes políticos e as formas de governo, as teorias de estado e a origem e formação da sociedade.[2]
Conforme Cotrim (2008), a Filosofia Política tem “como objetivo a analisar as diversas formas de poder, de relações entre o poder e os cidadãos, dos sistemas de governo.[3]Ainda segundo Cotrim, “integram a temática básica da filosofia política as reflexões em torno do poder, do Estado, dos regimes políticos e formas de governo, da participação dos cidadãos na vida pública, entre outros temas.”[4] São algumas das questões abordadas pelas Filosofia Política, a sobre o que é política? O que é poder? Qual tipo de poder é próprio da política? Quem é o detentor do poder político? Como se relacionam os fenômenos do poder, da força, da violência e a atividade política. O que é o Estado? Qual sua origem e sua função? Qual a relação entre estado, governo e povo? Qual a melhor forma de organização política? Qual a relação entre política e ética?
Fica, portanto, claro que existe uma diferença entre política, politicagem, ciência política e Filosofia política.

Referencia bibliográfica:
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2001.
COMTE-SPONVILLE. Apresentação da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
COTRIM, Gilberto. Filosofia Temática. São Paulo: Saraiva, 2008;
DUROZOI, Gérard & ROUSSEL, André. Dicionário de Filosofia. 5ª ed. Campinas, SP: Papirus, 1993.


[1] Cf. COMTE-SPONVILLE. 2002, p. 27-28.
[2] Cf. COTRIM, Gilberto, 2008, p. 86.
[3] DUROZOI & ROUSSEL, 1993, p.374.
[4] COTRIM, 2008, p 86.




O CONHECIMENTO: A QUESTÃO DA ORIGEM E DOS MODOS DE CONHECER

Como a filosofia trabalha com conceitos, idéias, teorias, princípios racionais, é inevitável a pergunta pelo que é o conhecimento, como ele se origina e quais os modos de conhecer do ser humano, enquanto ser racional. Por isso, nesta aula vamos estudar o conceito de conhecimento, a questão da origem do conhecimento e os modos de conhecer.
O que seria o conhecimento. Segundo Severino (p. 38) por conhecimento deve entender a relação que estabelecida entre o sujeito e o objeto, na qual o sujeito apreende informações a respeito do objeto. Nesse sentido, a relação que se estabelece entre a consciência subjetiva, enquanto capacidade de conhecer, e um objeto que pode ser conhecido tem por base a capacidade racional do ser humano de captar sensações ou impressões de uma dada realidade e formar dela uma imagem mental que chamamos de idéia ou conceito.
No que se refere à origem do conhecimento, se na razão ou na experiência, problema que ganhou forma na idade moderna, costuma-se responder a partir de três tradições: o racionalismo, o empirismo e criticismo.
O racionalismo. Trata-se de uma doutrina filosófica surgida na França, por volta do século XVII, segundo a qual a origem do conhecimento está na razão independente da experiência ou dos sentidos. O principal expoente dessa teoria foi o filósofo René Descartes. Segundo ele, o ser humano possui algumas idéias inatas, independente do contacto com objetos dos quais se pudesse abstrair informações a seu respeito.
O empirismo. Foi uma doutrina filosófica que surgiu como uma reação ao racionalismo, sobretudo o cartesiano, e que defendia ser a origem do conhecimento a experiência. Aqui cabe uma rápida explicação: a palavra experiência deriva do termo grego empeiria e significa experiência. No caso, os filósofos empiristas chamam de experiência o contato do sujeito com a realidade através dos sentidos. Assim, dirão eles que nada está no nosso intelecto que primeiro não tenha passado pelos sentidos. Essa corrente filosófica surgiu na Inglaterra por volta do século XVII e tem como principiais representantes os filósofos John Locke e David Hume.
O criticismo. Na Alemanha do século XVIII, o filósofo Imannuel Kant resolve abraçar o problema e tenta entendê-lo numa perspectiva diferente, pois não podia negar o papel preponderante da razão na origem do conhecimento, nem muito menos a importância da experiência nesse processo. Assim, depois de uma longa analise crítica propõe uma teoria que seria denominada de Críticismo, segundo o qual tanto a razão quanto a experiência quanto a razão são fundamentais na construção do conhecimento. Nas palavras de Severino (p 104) “Kant explica que o conteúdo do conhecimento procede, como queriam Hume e os empiristas, das empiristas, das impressões sensíveis; mas esse conteúdo, para ser conhecido, precisa ser devidamente organizado, precisa ser ordenado na consciência, o que dá uma certa procedência às perspectivas de Descartes e dos idealistas. Portanto, a forma que o conteúdo assume é fornecida pela subjetividade do sujeito que conhece. Assim, o ato de conhecimento é um ato único mas complexo, onde os dados empíricos são organizados, ordenados e estruturados por um sujeito lógico. Assim, para conhecer, o homem precisa da experiência sensível, única fonte do conteúdo empírico, mas precisa também de uma estrutura lógica, independente da experiência que organize esses dados empíricos”.

OS MODOS DE CONHECER

No que se refere aos modos de conhecer do ser humano, fala-se normalmente em dois grandes modos: a intuição e o conhecimento discursivo.
A intuição. A palavra intuição deriva do termo latino intus, que significa “dentro”. Assim, a intuição é um modo de conhecer imediato, sem intermediários, uma compreensão ou visão súbita de algo ou alguma coisa. Segundo Japiassú (2005, p. 301), existem vários tipos de intuição: a empírica que se caracteriza pelo conhecimento imediato da experiência, seja externa ou intuição sensível como os dados dos sentidos: cores, odores, sabores; seja intuição interna ou psicológica: dados psíquicos; imagens, desejos, emoções, paixões, sentimentos etc. Fala também da intuição racional, na qual se percebe as relações e apreende os princípios da identidade, da não-contradição, etc... Existe também a intuição como uma compreensão global e instantânea de uma situação ou de um ser  humano ou discernimento de um todo complexo. Por fim, a intuição entendida como um sentimento súbito de solução de um problema ou de uma relação científica.
O conhecimento discursivo. O termo discurso provêm do latim “discursus”, cujo significado literal é “ação de correr para diversas partes, de tomar várias direções”[1]
O conhecimento discursivo se caracteriza pela organização das intuições ou percepções imediatas da experiência em conceitos ou idéias pelo processo metal de encadeamento e articulação de juízos e raciocínios até chagar a uma conclusão racionalmente lógica. Nesse processo, a razão abstrai (abstrair significa “isolar”, “separar de”), ou seja, isola um elemento captado pela vivência cotidiano e reelabora pela interpretação e análise crítica, associando ou dissociando informações, estabelecendo hierarquia de grandeza, relação, quantidade (multiplicidade, unidade totalidade), qualidade (realidade, negação, limitação) e modalidade (possibilidade, existência, necessidade) etc..

OS TIPOS DE CONHECIMENTO

A necessidade de conhecer é uma exigência fundamental do ser humano. Precisamos conhecer para nos situarmos no mundo e nos sentirmos seguros nele. Mas não é só isso. Graças à nossa capacidade racional, criamos um mundo diferente do chamado mundo natural. Noutras palavras, a nossa capacidade racional re-significa o ambiente natural de forma que as coisas naturais assumem um novo sentido e significado às coisas e seres criando um mundo humano, diferente do mundo natural.
Ao longo da história da humanidade, o ser humano criou e tentou explicar a realidade a partir de um conjunto de conteúdos que passaram a ser classificados a partir do mundo como a racionalidade humana foi utilizada. Assim, fala-se em conhecimento mítico, do senso comum, filosófico, teológico e científico.
1. O conhecimento mítico
A palavra mythos significa “narração”, “discurso narrativo”. Conforme Arruda Arranha, o mito é uma forma do ser humano se situar no mundo. Um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão, e não-crítica de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também as diretrizes da ação humana. (temas de Filosofia, 1998, p.63).
Na explicação mítica, a realidade aparece impregnada de qualidades boas ou más, pois a mundo é visto como uma realidade viva, aminada por forças místicas ou sobrenaturais.
2. O conhecimento do senso comum.
O conhecimento do senso comum é aquele que resulta de um uso espontâneo da razão, mas que também é fruto dos sentidos, da memória, do hábito, dos desejos, da imaginação, das crenças e tradições [...].
O senso comum, mesmo sendo racional, faz uso não refletido da razão. Por se tratar de um conjunto de concepções fragmentadas, muitas vezes incoerentes, condiciona a aceitação mecânica e passiva de valores não-questionados e se impõe sem críticas ao grupo social. Às vezes, torna-se fonte de preconceitos, quando desconsidera opiniões divergentes. (Cf, 1998, p. 70-71)
3. O conhecimento religioso
O conhecimento religioso ou teológico tem como objetivo compreender as questões fundamentais ou os temas de fronteira da existência humana, tendo como referência ou apoio a fé ou a revelação divina. A revelação divina é aceita e acolhida como autoridade a partir do qual se constrói um entendimento da realidade e um conjunto de diretrizes para o agir humano. As verdades advindas dessa relação da Revelação divina são acolhidas como infalíveis indiscutíveis.
4. O conhecimento filosófico
Um modo de pensar ou refletir sobre os acontecimentos a partir de certas posições teóricas. Essa reflexão permite ir além da pura aparência dos fenômenos, em busca de suas raízes e de sua contextualização em um horizonte amplo, que abrange os valores sociais, históricas, econômicas, políticas, éticas e estéticas. A reflexão filosófica em como características ser radical, rigorosa e de conjunto.
5. O conhecimento científico
Conforme Lucena, o conhecimento científico pode ser definido “como o conjunto organizado de conhecimentos sobre um determinado objeto, obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio.”(p.13) Segundo ela, o conhecimento científico apresenta como requisitos básicos: a delimitação do conhecimento, bem caracterizado e formulado que deseja investigar; a existência dos métodos adequados de pesquisa. São características desse tipo de conhecimento a análise, explicação, a justificação, a indução ou aplicação de leis.

Referência Bibliografia:
LUCENA, Tatiane. Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia. Bahia: FTC EAD, s/n;
SEVERINO, Antonio Joaquim. Filosofia. 2ª. ed. São Paulo: Cortez, 2007;
ARANHA, M. L. A. & MARTINS, Pires M. H. Temas de Filosofia. 2ª ed. São Paulo: Editora Moderna,1998.




[1] Cf. Aranha, p. 110

Ensaio SOBRE A OPINIÃO

“Ah, como uma cabeça banal se parece com outra! Elas realmente foram todas moldadas na mesma forma! A cada uma delas ocorre a mesma ide...