quarta-feira, 8 de junho de 2011

SOCIOLOGIA E A PESQUISA SOCIAL


(TEXTO 1 º ANO DE SOCIOLOGIA, 2º BIMESTRE)
A questão do método em Ciências Sociais
O termo método, a partir de René Descartes e Galileu Galilei, passou a designar um conjunto de regras e procedimentos para dirigir a razão nas investigações científicas. De fato, o descrédito de Descartes em relação às ciências humanas, a sua busca por idéias claras e distintas e as contribuições de Galileu foram o pontapé inicial para uma colocação das ciências da natureza como paradigma para todo o conhecimento científico. Assim, o conhecimento passou a ter como critério de plausibilidade a eficaz aplicação do método científico experimental, que consiste em submeter o objeto de estudo às seguintes etapas: observação e hipótese, comprovação da hipótese, experimentação, generalização.
O surgimento das Ciências Sociais, a partir do século XVIII e XIX, encontrou dois desafios: por um lado, o desejo de apresentar um conhecimento da sociabilidade humana, que não estivesse alicerçado nas teorias abstratas da filosofia metafísica nem nas explicações religiosas das teorias teológicas; por outro lado, as Ciências Sociais, no estudo de seu objeto, careciam de um método que fosse tão respeitado e eficaz quanto o método das ciências da natureza.
As Ciências Sociais ou Humanas encontraram muita resistência e dificuldade no meio científico quanto ao seu estatuto epistemológico como ciência, pois o estudo do comportamento humano em sociedade apresentava alguns problemas de caráter metodológico, o que dificultava o seu enquadramento no paradigma estabelecido pelas ciências da natureza. Por exemplo: como manter a objetividade, exterioridade e imparcialidade necessária para garantir o rigor das conclusões quando o objeto de conhecimento é o próprio homem? Como realizar ou controlar experimentalmente os diferentes fatores que influenciam o comportamento humano em sociedade? Como determinar ou generalizar como certo a previsibilidade de um comportamento humano quando o objeto de conhecimento é um ser consciente e livre? O máximo que se pode falar é em probabilidade ou tendências.
O conhecimento do homem enquanto ser social devia ter como instrumento de pesquisa um método que pudesse comprovar de modo seguramente cientifico as conclusões dos cientistas da sociedade. Mas, era impossível aplicar ao estudo do homem o mesmo método das ciências da natureza, visto que o comportamento humano é complexo e muito diversificado. Diante dessas dificuldades, muitos teóricos saíram na defesa da possibilidade de uma investigação rigorosa, metódica e eficientemente científica da realidade social do homem, dentre eles destacam-se Émile Durkheim, Marx Weber, Karl Marx.

2.1 A pesquisa Social
Abstendo das nuances do debate, basta-nos o conhecimento de alguns procedimentos metodológicos usados na pesquisa social, principal recurso metodológico usado no estudo da realidade social. Por pesquisa social se entende o processo de utilização da metodologia científica com o objetivo de obter novos conhecimentos no campo da realidade social, entendendo por esta todos os aspectos concernentes ao homem, concretamente considerado, e o conjunto de suas relações com outros indivíduos e instituições sociais.
A pesquisa social pode ter um caráter meramente intelectual, também chamada de pesquisa pura, pois visa, de modo imediato, apenas a aquisição de um conhecimento intelectivo, sem uma preocupação de aplicar os resultados à transformação social. Essa pesquisa assume uma característica acentuadamente formal e objetiva à generalização para construção de leis e teorias. Mas, existe também a pesquisa social de ordem prática ou aplicada, cuja característica fundamental é a preocupação em utilizar os conhecimentos e conseqüências práticas para a interferência na realidade social.

2.1.1. Tipos da pesquisa Social
Eis, segundo Antonio Carlos Gil, alguns dos tipos de pesquisa utilizados por psicólogos, sociólogos, e outros pesquisadores sociais:
a) Pesquisas exploratórias: tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, visando a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. De todos os tipos de pesquisa, estas são as que apresentam menos rigidez no planejamento e envolvem levantamento bibliográfico, documentais, entrevistas, estudos de casos etc.
Objetivos: proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativo, sobre determinado fato, especialmente quando o tema escolhido é pouco conhecido ou explorado.
b) Pesquisas descritivas: tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Uma de suas características mais significativas é a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. As que mais se destacam são as que objetivam estudar as características de um grupo: distribuição por idade, sexo, procedência, escolaridade etc. São também usadas para mostrar questões sociais como o atendimento dos órgãos públicos, o acesso a habitação, a taxa de criminalidade etc.
c) Pesquisas explicativas: estas têm como preocupação central identificar as causas ou os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos sociais investigados. Esse tipo de pesquisa é o que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão das coisas.

2.1.2. Procedimentos metodológicos em Pesquisa Social
A partir do texto de Cristina Costa, vamos apresentar, resumidamente, alguns dos procedimentos mais utilizados na Pesquisa Social.
a)Observação: técnica de pesquisa em que o cientista, guiado por uma metodologia, por conceitos e indicadores correspondentes, coleta, seleciona e ordena dados da realidade a fim de tentar explicar sua gênese e suas características. A observação é tão importante nas ciências sociais como nas demais ciências. Observar significa separar, em meio à complexa vida social, aquilo que é circunstancial e periférico daquilo que é essencial e diz respeito ao problema investigado.
O processo de observação, segundo Cristina Costa, possui três fases: os dados brutos (a fase de reunião de uma massa de dados considerados importantes); a codificação (que consiste na compilação e classificação dos dados); e a tabulação (os dados são dispostos e organizados de acordo com a significância e encadeados numa ordem lógica que permite visualizar ou verificar as relações de diferenças e semelhanças entre eles).
A autora cita dois tipos de observação: observação em massa e observação participante.
A observação em massa: quando se observa o comportamento de uma grande população em relação a um conjunto determinado de fatos. A observação em massa permite a convocação de voluntários para ver e relatar pormenorizadamente situações específicas, registrando opiniões e declarações dos indivíduos envolvidos nas situações observadas. Esse método de observação direta varia de acordo com o problema investigado. É importante que o investigador seja previamente preparado, pois a precisão da observação depende mais do seu preparo e pressupostos teóricos do que do número de observações e indivíduos observados.
A observação participante distingue–se da anterior, na medida em que pressupõe uma interação entre investigador e o grupo pesquisado. Nesse caso, ele deixa de ser um mero observador externo e passa a ter parte ativa nos acontecimentos. A interação radical entre o investigador e o seu objeto de estudo, embora elogiada por alguns cientistas sociais, ela tem sido criticada por muitos pesquisadores que acreditam mais na eficácia de uma pesquisa que resguarde a objetividade científica.
b)      Experimento: é uma técnica de pesquisa que, se inspirando nas experiências laboratoriais das ciências da natureza, procura “isolar” da realidade concreta um grupo de pessoas e os submete a situações previamente estabelecidas, a fim de nelas observar algum comportamento específico. Para isso, cria-se um ambiente artificial que possibilite a observação de um determinado comportamento e também se escolhe um grupo de pessoas que seja mais ou menos homogêneo em relação a certas características (idade, sexo, camada social e nacionalidade) e permita controlar a influencia dessas variáveis sobre o comportamento que se deseja investigar. A vantagem do experimento é que possibilita uma economia tempo e também um maior controle sobre a interferência de variáveis intervenientes como heterogeneidade grupal etc.
c)O questionário: trata-se de uma das técnicas de pesquisa mais comuns, econômicas e simples de pesquisa social. Ela se faz necessária, sobretudo quando o cientista não dispõe de dados previamente coletados pelas instituições públicas sobre determinadas características da população e quando se deseja obter levantamentos específicos: aspectos, opiniões e comportamentos etc. Para a elaboração de um questionário de pesquisa social é preciso ter alguns cuidados: primeiro, as perguntas devem ser fáceis, claras e conexas; não podem induzir os interrogados a responder conforme aos interesses subjetivos do pesquisador; o questionário não pode ser extenso e deve partir de perguntas simples como idade, sexo, profissão, nacionalidade aos temas mais específicos. Um questionário pode ter perguntas abertas, quando o interrogado pode responder da forma que desejar ou perguntas fechadas, neste último caso o interrogado escolhe entre as várias opções de resposta previamente elaboradas.
O questionário, como técnica de pesquisa social, apresenta dados mais seguros quando submetido a uma fase de testagem prévia e sucessivas aplicações, com a finalidade é adequar as perguntas às informações que se quer obter. A aplicação de um questionário oferece uma gama de variações e possibilidades, de acordo com o interesse e o assunto pesquisado, por exemplo: o anonimato ou identificação do investigado, aplicação pessoal ou indireta pelos correios ou outro instrumento de comunicação.
d)     A Entrevista: esta é outra técnica ou procedimento a que o investigador recorre para conseguir opiniões, fatos ou testemunhos sobre determinada questão. Na entrevista, o pesquisador escolhe as pessoas indicadas por algum dos métodos de amostragem e faz um demorado interrogatório ou exame, normalmente gravado, e os resultados passam por uma análise em função da pesquisa. Como método de pesquisa, a entrevista objetiva a captação de dados, como opiniões, comportamento efetivo dos indivíduos diante de uma situação determinada. Para conseguir êxito e não fugir aos seus objetivos, o investigador deve formular as questões previamente, e ter um certo treino para obter a confiança do entrevistado e também para evitar que ele influencie nas declarações do entrevistado.
e)Amostragem: é o processo de no qual uma parte da população de uma cidade, de um estado ou de um país é selecionada para se fazer parte de uma determinada pesquisa. Existem basicamente dois tipos de amostragens: a aleatória e a proporcional. No primeiro caso, o pesquisador, não dispondo de dados estatísticos das camadas que compõem o grupo populacional a ser estudado, faz um sorteio aleatório dos indivíduos para a investigação. Já na pesquisa por amostragem proporcional, o pesquisador, tendo conhecimento prévio da composição populacional por categorias (sexo, idade, estado civil etc), seleciona por estratos e em igualdade proporcional os entrevistados, tentando reproduzir em menor escala, isto é, proporcionalmente, as categorias que compõem o grupo.
(Texto adaptado para a sala de aula a partir de Pérsio Santos e Cristina Costa)

CULTURA E SOCIEDADE


(Texto de Sociologia - 3º ano do Ensino Médio, 2º bimestre)


Para as Ciências Sociais, o conceito de cultura significa o conjunto de crenças, regras, manifestações artísticas, técnicas, tradições, ensinamentos e costumes produzidos e transmitidos no interior de uma sociedade.
1. O papel da educação na transmissão da cultura.
A aquisição e a perpetuação da cultura é um processo social, resultante da aprendizagem. Cada sociedade transmite às novas gerações o patrimônio cultural que recebeu de seus antepassados. Por isso, a cultura é também chamada de herança social.
Nas sociedades em que não há escolas, a transmissão se dá por meio da família de convivência com o grupo adulto. Trata-se de uma educação informal ou assistemática.
Nas sociedades onde há escolas, estas se encarregam de completar a transmissão da cultura iniciada pela família e outros grupos sociais. Trata-se da educação formal ou sistemática.
2. Identidade cultural
Cada sociedade elabora sua própria cultura ao longo da história e recebe a influência de outras culturas. Noutras palavras, não há sociedade sem cultura. Esta pode ser entendida como um estilo de vida de próprio, um modo de vida particular que todas as sociedades desenvolvem e que caracteriza cada uma delas. Nesse sentido, os indivíduos que partilham a mesma cultura apresentam o que se chama de identidade cultural. É ela que faz como que o individuo desenvolva o sentimento de pertencimento a uma comunidade, a uma sociedade, a uma nação, a uma cultura.
3. O aspecto material e o não-material da cultura.
A cultura material consiste em todo tipo de utensílios produzidos em uma sociedade – ferramentas, instrumentos, máquinas, hábitos alimentares, habitação etc. – e interfere diretamente em seu estilo de vida. Já a cultura não-material abrange todos os aspectos morais e intelectuais da sociedade, tais como: normas sociais, religião, costumes, ideologia, ciências, artes, folclore etc.
Uma das manifestações da cultura não-material de maior interesse para o antropólogo é o folclore. O que é o folclore? Para alguns estudiosos, folclore é tudo que o homem do povo faz e produz como tradição. Nas palavras do folclorista brasileiro Câmara Cascudo, folclore é “a cultura do popular tornada normativa pela tradição”.
Existe uma interdependência estreita e constante entre a cultura material e cultura não-material. Essa interdependência entre esses dois aspectos da é intrínseca a qualquer cultura, pois um grupo só pode realizar sua cultura não-material apoiado em meios concretos de expressão que fazem parte de suas cultura material.
4. Componentes da cultura
Os principais aspectos ou componentes da cultura são: os traços culturais, o complexo cultural, a área cultural, o padrão cultural e a subcultura.
4.1. Traço cultural: é o menor componente representativo de uma cultura. Os traços culturais são componentes mais simples de uma cultura, são unidades de uma cultural, portanto só tem significado quando considerados dentro de uma cultura específica. Portanto, só quando consideramos o conjunto da cultura é que podemos entender um determinado traço cultural. Um exemplo de traço cultural pode ser: O cocar de penas usado por nossos índios. Ele próprio é constituído de partes menores, as penas usadas na confecção, mas as penas só serão um traço cultural quando reunidas na foram de um cocar.
4.2. Complexo cultural: é a combinação dos traços culturais em torno de uma atividade básica. O carnaval, por exemplo, é um complexo cultural que reúne um grupo de traços culturais relacionando-os uns com os outros: carros alegóricos, música, dança, trios elétricos, desfile etc. O futebol que pode ser desmembrado em vários traços culturais: a bola, o campo, o juiz, os jogadores, a torcida, as regas do jogo etc.
4.3. Área cultural: a região em que predominam determinados complexos culturais forma uma área cultural. Está é, portanto, o espaço geográfico no qual se manifesta uma certa cultura. Os grupos humanos localizados em determinada área cultural apresentam grandes semelhanças quando aos traços e complexos culturais.
Quando diversas culturas, de diferentes origens, se encontram em uma mesma área cultural, e entre elas se desenvolve uma relação de simbiose e respeito mútuo, temos uma situação multicultural.
No Brasil não temos ainda uma situação multicultural. Existem, sim, miscigenação racial e sincretismo cultural, mas ainda não se pode falar em multiculturalismo, pois convivemos com manifestações de racismo, preconceito e discriminação. Apesar disso, é inegável que a miscigenação deu origem a uma fusão de culturas.
4.4. Padrão cultural: é o conjunto de normas que rege o comportamento dos indivíduos da determinada cultura ou sociedade. Assim, quando os membros de uma sociedade agem de uma mesma forma, estão expressando os padrões culturais daquele grupo social. Por exemplo, o casamento monogâmico é um dos padrões culturais da sociedade brasileira.
4.5. Subcultura: Segundo Vila Nova (1992), “na linguagem sociológica, ao contrário do uso que se faz da palavra na linguagem do senso comum, subcultura na significa cultura inferior, pois, como vimos, não é tarefa da sociologia julgar os fenômenos da sociedade. Subcultura significa parte de uma cultura. As subculturas, sendo diferentes do todo, não são, contudo, independentes da cultura total” (p.49).
A ocorrência de subculturas não se limita a diferenças regionais: exemplo cultura nordestina, cultura indiana, mas pode se verificar na relação de gerações. Os jovens, por exemplo, criam costumes e modos de vida radicalmente distintos da norma adulta.
5. O Crescimento do patrimônio cultural
Cada geração passa por processos de aprendizagem, nos quais assimila a cultura de seu tempo e se torna apta a enriquecer o patrimônio cultural das gerações futuras. É na capacidade que os grupos têm de perpetuar e acrescentar novos valores à cultura que reside à possibilidade de progresso. Por mais viva e inventiva que seja uma nova cultura, as gerações não rompem inteiramente com seu passado.
5.1. Invenção e difusão cultural. Em geral, o enriquecimento patrimonial de uma cultura se faz por meio de dois processos: a invenção e a difusão cultural. A invenção é a combinação de traços já existentes, dando como resultado um traço cultural novo. Muitas vezes, as invenções acarretam mudanças amplas e profundas em toda a cultura.
Alguns traços culturais, como uma nova moda o uso de um equipamento recentemente inventado, difundem-se não só na sociedade em que tiveram origem, mas também entre culturas diferentes, geralmente através dos meios de comunicação. Quando isso ocorre, dizemos que está havendo um processo de difusão cultural. Pode-se afirmar que o enriquecimento cultural se verifica mais por difusão do que por invenção. Assim, a cultura é o somatório de todas as realizações das gerações passadas que se sucederam no tempo, mas as realizações de gerações presente.
5.2. Retardamento cultural: as Mudanças dos diversos componentes da cultura não acontecem no mesmo ritmo: alguns se transformam mais rapidamente do que outros. Essa diferença de ritmo provoca descompassos entre os diversos componentes da cultura.
Toda vez que há um desequilíbrio entre os diferentes aspectos da cultura, pode-se falar de retardamento cultural.
6. Aculturação: contato e mudança cultural.
Para Sebastião Vila Nova (1992), “o processo de fusão de culturas em contato através de troca de seus padrões e da influência mútua é denominado, em sociologia, de aculturação ou transculturação” (p.48).
Um exemplo pode ser a processo de colonização do Brasil, durante o qual houve intenso contato entre a cultura do conquistador português e as culturas dos povos indígenas e dos africanos trazidos como escravos.
Em decorrência desse contato, ocorreram modificações tanto na cultura dos europeus portugueses recém-chegados – que assumiram muitos traços culturais dos outros povos – quanto na dos indígenas a africanos, que foram dominados e perderam muitas de suas características. Desse processo de contato e mudança cultural – conhecido como aculturação – resultou a cultura brasileira.
6.1. Marginalidade cultural. Quando duas culturas entram em contato, podem ocorre – além da aculturação – conflitos emocionais nos indivíduos que pertencem a ambas as culturas.
Esses conflitos têm origem na insegurança que as pessoas sentem diante de uma cultura diferente da sua. Aqueles que não conseguem se integrar totalmente a nenhuma das culturas que os rodeia ficam à margem da sociedade. A esse fenômeno dá-se o nome de marginalidade cultural.
7. Contracultura
Nas sociedades contemporâneas encontramos pessoas que contestam certos valores culturais vigentes, opondo-se radicalmente a eles, num movimento chamado de contracultura.
Na década de 1950, os estados Unidos conheceram a geração beat, que contestava o otimismo consumista do pós-guerra norte-americana, a ingenuidade que os filmes de Hollywood apregoavam, o anticomunismo generalizado e a falta de um pensamento crítico.
Na década de 1960, surgiu o movimento hippie. Também um movimento de contracultura, porque se opunha radicalmente aos valores culturais considerados importantes na sociedade ocidental: o trabalho, o patriotismo, a acumulação de riquezas e a ascensão social.
8. Socialização e controle social
Segundo o sociólogo norte-americano G. Smith Russel, “nove décimos de tudo o que você faz, diz, pensa, sente, desde que se levanta de manhã cedo até que vai para cama dormir, você diz, faz, pensa, sente não como expressão própria, independente, mas em conformidade inconsciente e sem crítica com regras, regulamentos, hábitos grupais, padrões, códigos, estilos e sensações que existam muito antes que você nascesse”. Já vimos que a sociabilidade – tendência natural da espécie humana para viver em sociedade – é desenvolvida por meio do processo de socialização. A socialização é o ato de transmitir ao indivíduo, de levá-lo a assimilar e introjetar os padrões culturais da sociedade. É também um processo social abrangente, pois afeta direta ou indiretamente todos os indivíduos que vivem em uma determinada sociedade.
O maior instrumento de socialização é o controle social, que pode assumir diversas formas. O controle social são as formas pelas quais a sociedade introjeta os valores do grupo na mente de seus membros, para evitar que adotem um comportamento divergente. O principal objetivo do controle social é fazer com que cada indivíduo tenha o comportamento socialmente esperado.
A primeira agência de controle social é a família. Desde que nasce, acriança é orientada, educada e moldada pelo grupo familiar. Depois pela Igreja, pela escola e pelo Estado: são todos agências formais ou institucionalizadas de controle social.
8.1. Tipos de Controle social. O controle social pode ser difuso (informal) ou institucionalizado (formal). Nas comunidades isoladas e pequenas, o controle social é difuso. Nas sociedades complexas, o controle social é institucionalizado ou formal, isto é, há órgãos e instituições sociais encarregados de sua aplicação. As sanções também podem ser difusas ou organizadas, dependendo do tipo de controle social. Nas sociedades modernas, mais complexas, aumenta a presença da instituição jurídica, da instituição policial e do estado, em substituição aos controles espontâneos, antes exercidos pela família e pelos membros da comunidade.
8.2. Funções do controle social. Nas sociedades modernas os sistemas de controle social são quase todos totalmente institucionalizados, isto é, dependem mais de leis e regras estabelecidas do que de normas impostas pela tradição. Ao mesmo tempo, á medida que as sociedades vão se tornando mais complexas, os sistemas de controle passam a assumir diferentes funções. Estas não se impõem meramente para punir ações ilícitas ou fazer valer determinadas normas e padrões, mas também a finalidade de manter o equilíbrio da sociedade e de dar proteção social efetiva aos seus membros socialmente desamparados.
De modo geral, podemos falar de três funções de controle social:
·                           A de ordem social: ligam-se à aplicação de normas e de leis. Na sociedade moderna, essas funções são desempenhadas pelo Estado, com seus órgãos específicos de caráter repressivo ou jurídico, como a polícia e os tribunais de justiça;
·                           As de proteção social: relacionam-se ao cumprimento de normas que beneficiam setores menos protegidos da sociedade. Entre elas, estão: Previdência social, Proteção da mulher, criança e idosos...
·                           A de eficiência social: estão relacionadas com regras e procedimentos que levem os indivíduos a contribuir de forma produtiva para o bem-estar e o desenvolvimento da sociedade.
·         (OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução à Sociologia. 25ªed. reform. e atual. São Paulo, Ática, 2004, pp. 137-150. [Texto adaptado com informações de vila nova])

A BASE ECONÔMICA DA SOCIEDADE



(Texto de Sociologia - 2º ano do Ensino Médio, 2º bimestre)
“O modo de produção da vida material condiciona o processo, em geral, da vida social, política e espiritual”
Karl Marx
1. A PRODUÇÃO
Bens: são todas as coisas materiais produzidas para satisfazer as necessidades das pessoas.
Serviços: são todas as atividades econômicas voltadas para a satisfação de necessidades e que não estão relacionadas diretamente à produção de bens. Os bens e serviços resultam da transformação de recursos da natureza em objetos úteis à vida humana. E isso só acontece por meio do trabalho nos processos de produção.
Processo de produção: o processo de produção é formado por três componentes principais associados: trabalho, matéria-prima, instrumentos de produção.

2. O TRABALHO
Por trabalho entende-se toda atividade humana que resulte em bens ou serviços. Todo trabalho resulta da combinação de dois tipos de atividade: manual e intelectual. O que varia é a proporção com que esses dois aspectos entram no processo de produção. Não existe trabalho exclusivamente manual ou exclusivamente intelectual, mas, sim, predominantemente intelectual.
O trabalho pode ser classificado conforme o grau de capacitação exigido do profissional. Assim temos: trabalho qualificado –  só pode ser realizado com um certo grau de aprendizagem e conhecimento técnico; trabalho não qualificado – pode ser realizado praticamente sem aprendizagem. Essa classificação não é uma simples divisão teórica. Ela atinge profundamente a vida das pessoas, pois diferentes salários são atribuídos conforme o grau de capacitação ou qualificação exigido pelas tarefas a cumprir.

3. MATÉRIA-PRIMA
Por matéria-prima deve-se entender os componentes iniciais do produto que, no processo de produção, são transformados até adquirirem a forma de bem final. Antes de serem transformados em matéria-prima, tais componentes encontram-se na natureza sob a forma de recursos naturais.

4. INSTRUMENTOS DE PRODUÇÃO
Todas as coisas que direta ou indiretamente nos permitem transformar matéria-prima em bem final são chamadas de instrumentos de produção. É o caso das ferramentas, dos equipamentos e das máquinas. O local de trabalho, iluminação, a ventilação e tos as instalações necessárias á atividade produtiva também são instrumentos de produção. Assim, instrumento de produção é todo bem utilizado pelo ser humano na produção de outros bens e serviços.
Os meios de produção sem matéria -a ventilação instrumentos de trabalho não se pode produzir. Eles são necessários para realizar qualquer tipo de trabalho. Os meios de produção são  a matéria-prima e os instrumentos de produção.

5. AS FORÇAS PRODUTIVAS
Todo processo produtivo combina o trabalho com os meios de produção. Sem o trabalho humano nada pode ser produzido; sem os meios de produção o homem não pode trabalhar. Ao conjunto dos meios de produção somados ao trabalho humano damos o nome de forças produtivas. Assim, forças produtivas = meios de produção + trabalho humano.

6. RELAÇÕES DE PRODUÇÃO
No processo produtivo, as pessoas dependem umas das outras para obter os resultados pretendidos. Dessa forma, para produzir os bens e serviços de que necessitam, os indivíduos estabelecem relações entre si. Tais relações são chamadas de relações de produção.
O trabalho é necessariamente um ato social. As relações de produção mais importantes são aquelas que se estabelecem entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores. Isso porque todo processo produtivo conta sempre com pelo menos dois agentes sociais básicos: trabalhadores e proprietários dos meios de produção.
São relações de produção que organizam e definem a sociedade. Existem diversos tipos de sociedade. Entre essas relações de produção está o erigem de propriedade. Por exemplo, se o trabalho de uma sociedade é feito majoritariamente por escravos, temos um regime de propriedade no qual os proprietários dos portadores da força de trabalho.
Cada um deles em suas próprias relações de produção. A esse conjunto de forças produtivas e relações de produção damos o nome de modo de produção.
Marx e os modos de produção
Na produção social da própria vida, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade. Essas relações de produção correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais.
A totalidade dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade. Essa estrutura é a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formais sociais determinadas de consciência.
O modo de produção de vida material condiciona o processo de vida social, política e espiritual. Ou seja, não é consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência.
Em determinada etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas entram em contradição com as relações de produção existentes. Essas relações – o regime de propriedade, por exemplo - , que antes eram formas de desenvolvimento das forças produtivas, transforma-se em seu maior obstáculo.
Sobrevém, então, uma época de revolução social.
Mas uma formação social nunca desaparece antes que estejam desenvolvidas todas as suas forças produtivas. E novas relações de produção mais adiantadas não substituem as antigas, antes que suas condições materiais de existência tenham sido geradas no próprio seio da velha sociedade.
Em grandes traços, podem ser caracterizados como épocas progressivas da formação econômica da humanidade os modos de produção asiático, antigo, feudal e burguês moderno.
(adaptado de: Karl Marx. Para a crítica da economia política. In: Marx. São Paulo, Abril Cultural, 1978. P. 129-30. Coleção Os Pensadores.)

7. MODOS DE PRODUÇÃO: A HISTÓRIA DA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE
Modo de produção é a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e como os distribui. É chamado também de sistema econômico. Modo de produção= forças produtivas + relações de produção.
Cada sociedade tem uma forma própria de produção, seu modo de produção. Este é constituído por fatores dinâmicos, que estão em constante mudança: as forças produtivas, que se modificam com o desenvolvimento dos métodos de trabalho, com o avanço tecnológico e científico; e as relações de produção, também sujeitas a transformações. Com o tempo, o desenvolvimento das forças produtivas acarreta mudanças e até ruptura (por meio de revoluções) nos modos de produção. Esse processo de desenvolvimento é responsável pelo surgimento de alguns dos principais modos de produção. São eles: comunal primitivo, escravista, asiático, feudal, capitalista e socialista. Agora vamos estudar aqueles que precederam o modo de produção pré-capitalista.
Modo de produção primitivo comunal: por volta de 10000 a.C., a espécie humana começou a cultivar a terra, produzindo cereais, verduras, legumes e frutas. A comunidade primitiva (ou modo de produção comunal) foi a primeira forma de organização humana. As pessoas trabalhavam em conjunto. A terra era o principal meio de produção. Tanto ela quanto os frutos do trabalho eram propriedade coletiva, comunal, isto é, de todos.
Não existia ainda a ideia de propriedade privada dos meios de produção, portanto não havia a oposição entre proprietários e trabalhadores. As relações de produção eram relações de cooperação, baseada na propriedade coletiva dos meios de produção.
Modo de produção escravista: na sociedade escravista, os meios de produção (terras e instrumentos de produção) e os escravos eram propriedade do senhor. O escravo era considerado um instrumento, um objeto, como um animal ou uma ferramenta. As relações de produção eram de domínio e de sujeição.
Os senhores eram proprietários dos portadores da força de trabalho (os escravos), dos meios de produção (terras, minas, oficinas artesanais, instrumentos de produção) e do produto do trabalho. Havia um rígido controle dos escravos dominados e regras para regular a ordem social. Foi necessário, portanto, que surgisse o Estado para garantir o interesse dos senhores.
O escravismo colonial
O conceito de modo de produção escravista colonial foi desenvolvido particularmente pelo historiador brasileiro Jacob Gorender.
Segundo Gorender, o escravismo colonial mostra a dinâmica interna da produção colonial brasileira, evidenciando o papel central que o trabalhador direto – o escravo – desempenha em sua estrutura.
O escravismo brasileiro é diferente do modo de produção vigente na Grécia e na Roma antigas, que também tinham por base o trabalho escravo, exatamente por ser colonial. Isto é, os proprietários dos meios de produção e a comercialização do fruto do trabalho estavam sob o controle da metrópole portuguesa, e não da própria colônia.
Ao mesmo tempo, a organização da produção tinha por base a platation – grandes latifúndios voltados para uma só cultura destinada á exportação (cana-de–açucar, café etc.). Outra característica do escravismo colonial é que ela atendia aos interesses do capitalismo mercantil dominante na Europa.
Para Gorender, esse modo de produção apresenta três aspectos principais.
1. Economia voltada predominantemente para o mercado externo (isto é, produzia-se tendo em vista a exportação, e não o consumo interno), dependendo desse mercado externo o estímulo necessário ao desenvolvimento das forças produtivas.
2. Troca-se gêneros agropecuários ou matérias-primas minerais por produtos manufaturados fabricados na metrópole ou em algum outro país europeu.
3. Fraco ou nenhum controle da colônia sobre a comercialização no mercado externo.
A mistura de trabalho escravo e capitalismo mercantil (dominante na metrópole) criou uma sociedade peculiar. Porque, apesar de existir um pouco de agricultura de subsistência, um pouco de comércio e um pouco de acumulação e prosperidade na Bahia, no Recife e no Rio de Janeiro, não houve acumulação capitalista na Colônia.
“Os mercadores coloniais constituíam uma burguesia mercantil integrada na ordem escravista, e tão interessada na sua conservação quanto os plantadores”, explica Gorender. Boa parte desses mercadores, aliás, se dedicava ao tráfico de escravos da áfrica para o Brasil colonial e imperial.
(baseado em: Jacob Gorender. O escravismo colonial. 5 ed. São Paulo, Ática, 1988.)

Modo asiático de produção: também chamado de sociedade hidráulica, o modo de produção asiático predominou na índia e no Egito da antiguidade, bem como nas civilizações pré-colombianas dos incas (nos países andinos), maias (leste do México) e astecas (do México à Nicarágua).
Trata-se de sociedades fechadas, equipadas com um estado forte e uma burocracia muito eficiente, capaz de manter o poder total do Estado, ao qual toda sociedade estava subordinada.
No modo asiático de produção, os meios de produção e a força de trabalho pertenciam ao estado, encarnado no Imperador. Abaixo dele, o grupo mais privilegiado era o dos sacerdotes, nobres e guerreiros. Mas o grupo mais poderoso era o dos administradores públicos, que atuavam em nome do Estado.
Modo de produção feudal: o modo de produção feudal predominou na Europa ocidental entre o século V e o século XVI. Em alguns casos, prolongou-se até o século XVIII ou mesmo XIX. A sociedade feudal estruturou-se sobre a divisão entre senhores e servos. As relações de produção no feudalismo baseavam-se na propriedade do senhor sobre a terra e no trabalho agrícola do servo.
Os servos não viviam como os escravos; eles tinham o direito de cultivar um pedaço de terra cedido pelo senhor, sendo obrigados, em troca, apagar-lhe impostos, rendas, e ainda a trabalhar nas terras do senhor sem nada receber.. O servo tinha direito ao usufruto da terra, mas não podia comprá-la ou vendê-la.
Outra diferença importante entre o servo e o escravo é que o escravo era propriedade do senhor, que podia vendê-lo, alugá-lo, emprestá-lo e até libertá-lo, se quisesse. Já o servo, na condição de pessoa, não era propriedade de seu senhor, mas estava ligado ao lote de terra no qual trabalhava. Caso o senhor vendesse esse lote a outra pessoa, esta era obrigada a manter o servo na propriedade.
A economia feudal, como a escravista, se baseava no campo. Só que, nesse sistema, as cidades tinham pouca importância. Os proprietários dos meios de produção – nobres e bispos – mantinham-se em seus feudos, tinham seus próprios exércitos e gozavam de considerável independência política em relação ao rei.
(OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução à Sociologia. 25ªed. reform. e atual. São Paulo, Ática, 2004, pp. 85-94. [Texto adaptado])

Ensaio SOBRE A OPINIÃO

“Ah, como uma cabeça banal se parece com outra! Elas realmente foram todas moldadas na mesma forma! A cada uma delas ocorre a mesma ide...