domingo, 15 de maio de 2016

MAQUIAVEL EM ALTA NA POLÍTICA BRASILEIRA

Epitácio Rodrigues da Silva


No Jornal Folha de São Paulo de hoje, 15/05/2016, numa matéria assinada por Julio Wiziack e David Friedlander, os autores, falando do Mercado, citam uma afirmação feita pelo empresário Carlo Bottarelli, presidente da empresa de infraestrutura Triunfo, que se tornou emblemática para o momento atual. O empresário teria dito: “Também saímos do bolivarianismo. Vai melhorar, mas agora é preciso fazer o mal na hora e o bem aos poucos” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/05/1771350-empresarios-sugerem-que-temer-faca-mal-rapido-e-bem-aos-poucos.shtml)
Mas como o verdadeiro autor dessa frase morreu em 1527 (e na pobreza), não poderá reclamar direitos autorais. Por isso, vou apenas dar ciência aos leitores de que essa frase é, na verdade, de autoria do filósofo florentino Nicolau Maquiavel (1469-2527) que, no livro O Príncipe, afirma: “As injurias devem ser feitas todas de uma vez, a fim de que, tomando-se-lhes menos gosto, ofendam menos. E os benefícios devem ser realizados pouco a pouco, para que sejam mais bem saboreados" (MAQUIAVEL, 1996, p. 67 [Os Pensadores]). Dizendo de um jeito bem direto, deve-se fazer o mal de uma vez só, porque assim fica mais fácil de esquecer, já o bem, em suaves prestações, para manter viva na memória do beneficiado as ações. Porém, é preciso que se diga aqui que Maquiavel faz essa afirmação no Cap. VIII, que trata exatamente “dos que alcançaram o principado pelo crime”. Assim, a receita do filósofo é destinada ao chefe político que não tem o aval do povo no governo daquela sociedade, visto que chegou ao poder pela “maldade, por vias celeradas” (p. 63).
Mas, o perigo de parar nesse capítulo do livro é não ficar sabendo que o seguinte (Cap. IX), sobre o Principado Civil, o filósofo faz uma análise sobre a chegada ao poder pelo favor do povo ou com o favor dos nobres. Nesse capítulo, Maquiavel lembrar que tentar agradar aos nobres(a elite), será uma empresa fadada ao fracasso, pois sempre agradará a uns, mas desagradará a outros, porque o objetivo de toda eleite é “comandar e oprimir o povo”, já o objetivo do povo é bem mais honesto, uma vez que a única coisa que almeja é “não ser comandado nem oprimido” pelas elites. E depois de discorrer sobre a diferença entre os comportamentos dessas duas classes antagônicas, deixa claro ao Príncipe: “Quem se tornar príncipe com os favores dos grandes e contra o povo deve, antes de tudo, tentar conquistá-lo, o que é fácil, se o proteger.” Naturalmente, o sentido do termo proteção não é sinônimo de paternalismo, mas refere-se a uma tomada de posição a favor do povo, pois nesse antagonismo explicitado pelo autor logo no início do capítulo IX, optar pelos poderosos tem um preço: “O príncipe deve, então, manter-se em guarda e temê-los como se fossem inimigos descobertos, porque sempre, na adversidade, ajudarão a arruinar-te” (MAQUIAVEL, 1996, p. 68).
Não resta dúvidas que o governo em exercício, Michel Temer, já fez a sua escolha. Um governo voltado às elites, para o qual a frase do empresário não tem um alcance global, mas direciona-se a um dos lados, os pobres. Assim, seguindo a onda maquiaveliana em alta na política do atual governo, resta um último lembrete do filósofo florentino, pai da política moderna: “fracassará nas adversidades... sua estabilidade é precária e incerta” (MAQUIAVEL, 1996, p. 69).



Um comentário:

  1. Excelente Texto. Informativo, sapiente, curto e de fácil compreensão.

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