sábado, 8 de março de 2014

ELAS SÓ QUERIAM CIDADANIA NO SENTIDO PLENO

Epitácio Rodrigues[1]

Todos os anos, desde 1975, o mundo comemora o "Dia internacional da Mulher". A forma mais comum de celebração desse dia é a distribuição de flores, presentes e congêneres. Acredito que as mulheres, de fato e de direito, merecem receber homenagens, dada a sua importância e, sobretudo, à sua dignidade: a mulher é um ser humano e, por isso, nunca deve ser tratada como meio, mas como um ser que tem um fim em si mesmo. Algo, aliás, que já declarava o filósofo Kant a respeito de toda pessoa. Mas já que a pauta é a comemoração, acredito ser oportuno lembrar que com-memorar é "fazer uma memória coletiva", isto é, reportar-se a uma situação ou fato de forma coletiva ou social. Mas, a que nos reporta o Dia Internacional da Mulher? Para onde essa memória nos leva? Quais as mulheres que estão na origem dessa comemoração? Essas questões não podem cair no esquecimento, pois esquecer é não ter a memória de algo e sem isso não há comemoração.
No dia internacional da mulher, o que não pode ser esquecido? Penso que antes de ressaltarmos a dimensão estética (algo importante e que não deve ser negligenciado), devemos recordar que naquele dia, 08 de março de 1857, naquela fábrica de Nova Iorque, as mulheres que a ocuparam eram mulheres trabalhadoras, que numa jornada laboral de dezesseis horas diárias, não dispunham de tempo para viver outras dimensões fundamentais da existência humana. Mas, mesmo nessa situação desumana, foram capazes de perceber a sua condição de exploradas, ideologicamente justificada com base em questões de gênero: ganhar um terço do salário de um homem, simplesmente por ser mulher (um ser inferior?).
As mulheres que estão na origem dessa comemoração eram pessoas pobres, mas que possuíam um rico senso ético, pois ao lado de questões econômicas como equiparação salarial e redução de jornada diária de trabalho, também reivindicavam respeito, tratamento digno por parte dos colegas de trabalho e dos seus empregadores.
Penso que o Dia Internacional da Mulher deve ser a expressão da alegria e da esperança feminina em dias melhores, pois as mulheres merecem isso. Todavia, esse dia nunca pode promover o esquecimento dessa consciência feminina de cidadania, que está na sua origem e que ilustra o seu protagonismo em movimentos sociais, como greve, ocupação do espaço de trabalho com o intuito de provocar um diálogo e uma negociação necessária à vivência de uma experiência laboral mais condizente com a dignidade humana. Aquelas mulheres, cientes da sua luta de classes - patrão versus empregado - e dos conflitos de gênero, eram vozes proletárias femininas querendo promover o diálogo sobre seus direitos civis, políticos, sociais e éticos. A resposta dada ao movimento reinvidicatório provocado por aquelas mulheres foi a violência e a carbonização de aproximadamente 130 vozes. A situação fica pior quando percebemos que as organizações políticas mundiais levaram 118 anos (Um século e quase duas décadas), para reconhecer que elas estavam certas. Por isso, o dia 08 de março é a ocasião para celebrar - tornar célebre a dignidade da mulher, mas também para reafirmar o seu compromisso com a teimosia cívica, reivindicadora dos direitos civis, políticos e sociais que lhe são cotidianamente negados.





[1] Texto originariamente escrito para o blog avozdosprofessores.blogspot.com 

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