terça-feira, 19 de outubro de 2010

ARISTÓTELES E A ÉTICA DA FELICIDADE( EUDAIMONIA)



Prof. Epitácio Rodrigues

A ética filosófica tem como um dos principais expoentes o filósofo grego Aristóteles, para quem ética e política são duas realidades intimamente relacionadas, por isso uma compreensão mais exaustiva do seu pensamento supõe uma consideração desses dois aspectos. Todavia, por questão de tempo, nos ateremos apenas aos elementos fundamentais de sua teoria ética. Isto é àqueles princípios que devem reger a vida humana individual e socialmente.
Para Aristóteles, o fim por excelência do ser humano é a realização plena de seu próprio ser, condição necessária para chegar à felicidade. E essa realização da natureza humana consiste basicamente na atualização de tudo o que lhe é próprio, e o próprio no homem, o que o caracteriza como tal, distinguindo-o dos demais seres é a sua natureza racional. Daí resulta que o bem supremo do homem, o seu fim ou sua felicidade, é a contemplação inteligível. Como o ele chega a essa conclusão? Durant (1996, p. 90) nos ajuda a entender quando afirma: “Aristóteles começa reconhecendo francamente que o objetivo da vida não é a bondade pela bondade, mas a felicidade. ‘porque escolhemos a felicidade por ela mesma, e nunca com vistas a qualquer coisa além dela; ao passo que escolhemos a honra, o prazer, o intelecto (...) porque acreditamos que através dessas coisas seremos felizes’(Ética, I,7) mas ele percebe que chamar a felicidade de bem supremo é um mero truísmo; o que se quer é uma explicação mais clara da natureza da felicidade e o caminho para chegar até ela. Ele espera encontrar esse caminho perguntando em que ponto o homem difere de outros seres; e presumindo que a felicidade do homem estará no pleno funcionamento dessa qualidade especificamente humana. Ora, a excelência particular do homem é a sua capacidade de raciocínio; é por isso que ele ultrapassa e governa todas as outras formas de vida; e como o desenvolvimento dessa faculdade lhe deu a supremacia, assim também, podemos presumir, a evolução da faculdade lhe dará a realização e a felicidade”.
Esta doutrina se chama eudaimonista, do grego eudaimonia, que significa felicidade.
De um ponto de vista prático, no agir humano atuam duas potências: a estimativa, no campo do comportamento instintivo; a cogitativa, no campo do comportamento voluntário. O que implica a emissão de juízos de razão. Esta potencia estabelece que o homem é o princípio e senhor de seus atos, pois é um ser livre que tem capacidade de eleição. Ou seja, o homem é o agente moral e a condição essencial de toda moralidade.
O único meio para conseguir a perfeita felicidade é a virtude, que não é mais que agir conforme a razão. A virtude é o meio pelo qual a razão harmoniza e exerce o domínio sobre os instintos.
Pelo comportamento voluntário, o homem é livre e responsável pelos seus atos. Nessa potência surge a consciência de um bem, o qual é desejado e para o qual se canalizam os atos humanos, e igualmente surge a capacidade de deliberação e de eleição entre diversos bens, porque o que se deseja imediata e necessariamente é só o fim último e não este ou aquele bem singular.
A virtude é o resultado de um permanente atuar livre do homem, que mediante a repetição racional de atos, engendra o costume de agir conforme a razão, o seja, o hábito. A virtude é o resultado de três fatores: a natureza e sua tendência espontânea ao bem; a razão que dirige esta tendência, e a prática que engendra o hábito. Para Aristóteles se existem dois grupos de virtudes:
a). As dianoéticas, que provêm de uma raiz grega: dianoeomai, que significa pensar. São as virtudes que surgem da atividade de pensar e do desenvolvimento da natureza racional do homem. É a perfeição do puro entendimento. Estas virtudes conduzem à ciência e à sabedoria.
b) As éticas que são exercícios harmônicos e equilibrados da atividade pensante do homem, que busca um meio termo, e através do qual evita todo excesso. Tem seu campo de ação na submissão do corpo e seus apetites ao domínio da alma. O meio termo é o critério da moralidade. Assim a temperança é o ponto de equilíbrio entre a abstinência e a gula. A justiça é a principal virtude ética. Esta pode ser comutativa, quando há harmonia entre o que se dá com o que se recebe; e distributiva, quando os homens repartem, eqüitativamente, os prêmios em proporção direta com os méritos de cada individuo.
 Entre as virtudes dianoéticas e as éticas, existe uma verdadeira correlação e necessidade, porque as primeiras servem de guia às segundas.
Acima de todas as virtudes, que guardam um permanente equilíbrio, entre a carência e o excesso, há uma que não é o meio para alcançar a perfeição, mas que é a mesma perfeição e como tal não é suscetível de excesso: é o pensamento contemplando-se a si mesmo. É a vida teorética do homem, é a contemplação do pensamento puro, da pura espiritualidade, de Deus, causa primeira e fim último de cada causa, e de cada fim particular e também fonte de toda felicidade.
Em suma, a ética aristotélica é, ao mesmo tempo, finalista, eudaimonista e racionalista. Pois defende que todas as nossas ações singulares estão voltadas a um fim último, que esse fim é exatamente a felicidade. O que caracteriza a felicidade para o ser humano é o desenvolvimento daquilo que lhe é específico a racionalidade.

2 comentários:

  1. Gostei muito do seu texto, muito bem desenvolvido e um dos melhores que encontrei na internet. Obrigado, continue postando.

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  2. MUITO ÓTIMO o seu texto !!
    me ajudou muito , sua linguagem e fácil de se entender.
    Me ajudou muito tenho prova de filosofia amanha , eu estava morrendo de medo porque não entendia nada , porém agora sinto que estou preparada para fazer a prova.
    Obrigado :)

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