Epitácio Rodrigues
Cada um dos nossos sentimentos tem sua linguagem particular e ganha visibilidade através do nosso corpo: nas mãos que se acariciam, nos lábios que se tocam ou tocam a face da pessoa amada, no olhar que busca outro olhar. A respeito dos olhares, vale dizer
que, se muito rapidamente aceitamos ser o essencial invisível, não devemos
esquecer que nos olhos pode está também a inteligibilidade do essencial. Eles têm o
dom de comunicar o nosso interior, “são a janela da alma”. A visão, sem dúvida,
é um dos sentidos mais expressivos do nosso corpo, como atesta a nossa crença
comum: “seus olhos não me enganam” ou “está escrito nos seus olhos”, ou ainda
“longe dos olhos, longe do coração”, “o que os olhos não vêem, o coração não
sente”. Estar sob o olhar de alguém pode significar tanto um aprisionamento
quanto uma forma de proteção.
Mas de todos os sentimentos, a ternura é o que mais se destaca pela sua
comunicação ou visibilidade profundamente centrada no olhar. Podemos dizer que
a ternura é um bem-querer que se manifesta num modo peculiar de se olhar. É claro que nem
todo modo de olhar comunica a ternura. A agressividade também pode ser expressa
na forma como olhamos para alguém ou vice-versa. Ambos são comunicações
oftálmicas, porém, como já disse, o jeito do olhar revela o diferencial: um repele, o outro
acolhe, um agride, o outro cura, um gera o medo, o outro a segurança.
A experiência da ternura é o lampejo de um olhar que revela um amor que ama por amar. Este amor
benevolente é ricamente manifesto no gesto maternal ao acolher
contemplativamente o filho(a) no colo. Se nos fosse possível observar o mundo
sob uma empatia pueril; ver as pessoas como as crianças vêem, perceberíamos o
quanto um adulto pode ser um gigante aterrador nas suas vidas. Porém, é o modo
como elas são olhadas suscita o sentimento de segurança: “existe um colo que me aconchega e
um olhar que me acolhe”.
Mas não são só as crianças que têm esse privilégio de experimentar a
ternura, pois ela está muito presente entre os jovens e adultos. Trata-se de um
jeito meigo, aliás, o termo meigo retrata bem a dinâmica da ternura (meigo em
português, dizem os especialistas em etimologia, é uma abreviatura da palavra mágico). Assim, este modo de olhar é
mágico na medida em que nos envolve numa relação de fascínio, encanto e
sedução. É um diálogo silencioso e sereno estabelecido entre duas pessoas que
se sentem imersas numa teia de linguagem não-verbal, seja paralela, seja
pré-linguística, na qual nenhuma fala explicitamente e ambas se entendem.
Em resumo podemos dizer que a ternura é um jeito meigo ou mágico de olhar que manifesta uma
profunda empatia, desencadeando um diálogo não-verbal numa relação de sedução,
mistério e revelação: um modo de olhar que se expõe silenciosamente e interroga
sobre a resposta do outro.
Que lindo e suave texto, descreve a ternura de um jeito meigo e simples de ser, de ser o que se é, com o olhar, com um toque. E a leitura se torna também terna. Concordo quando diz que o olhar comunica a ternura e também outros sentimentos, mas o que mais me tocou nesse foi a a parte em que fala da experiência da ternura - é o lampejo de um olhar que revela um amor que ama por amar.
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