Epitácio Rodrigues[1]
Todos
os anos, desde 1975, o mundo comemora o "Dia internacional da
Mulher". A forma mais comum de celebração desse dia é a distribuição de
flores, presentes e congêneres. Acredito que as mulheres, de fato e de direito,
merecem receber homenagens, dada a sua importância e, sobretudo, à sua
dignidade: a mulher é um ser humano e, por isso, nunca deve ser tratada como
meio, mas como um ser que tem um fim em si mesmo. Algo, aliás, que já declarava
o filósofo Kant a respeito de toda pessoa. Mas já que a pauta é a comemoração,
acredito ser oportuno lembrar que com-memorar é "fazer uma memória
coletiva", isto é, reportar-se a uma situação ou fato de forma coletiva ou
social. Mas, a que nos reporta o Dia Internacional da Mulher? Para onde essa
memória nos leva? Quais as mulheres que estão na origem dessa comemoração?
Essas questões não podem cair no esquecimento, pois esquecer é não ter a
memória de algo e sem isso não há comemoração.
No dia
internacional da mulher, o que não pode ser esquecido? Penso que antes de
ressaltarmos a dimensão estética (algo importante e que não deve ser
negligenciado), devemos recordar que naquele dia, 08 de março de 1857, naquela
fábrica de Nova Iorque, as mulheres que a ocuparam eram mulheres trabalhadoras,
que numa jornada laboral de dezesseis horas diárias, não dispunham de tempo
para viver outras dimensões fundamentais da existência humana. Mas, mesmo nessa
situação desumana, foram capazes de perceber a sua condição de exploradas,
ideologicamente justificada com base em questões de gênero: ganhar um terço do
salário de um homem, simplesmente por ser mulher (um ser inferior?).
As
mulheres que estão na origem dessa comemoração eram pessoas pobres, mas que
possuíam um rico senso ético, pois ao lado de questões econômicas como
equiparação salarial e redução de jornada diária de trabalho, também
reivindicavam respeito, tratamento digno por parte dos colegas de trabalho e
dos seus empregadores.
Penso
que o Dia Internacional da Mulher deve ser a expressão da alegria e da
esperança feminina em dias melhores, pois as mulheres merecem isso. Todavia,
esse dia nunca pode promover o esquecimento dessa consciência feminina de
cidadania, que está na sua origem e que ilustra o seu protagonismo em
movimentos sociais, como greve, ocupação do espaço de trabalho com o intuito de
provocar um diálogo e uma negociação necessária à vivência de uma experiência
laboral mais condizente com a dignidade humana. Aquelas mulheres, cientes da
sua luta de classes - patrão versus empregado - e dos conflitos de gênero, eram
vozes proletárias femininas querendo promover o diálogo sobre seus direitos
civis, políticos, sociais e éticos. A resposta dada ao movimento
reinvidicatório provocado por aquelas mulheres foi a violência e a carbonização
de aproximadamente 130 vozes. A situação fica pior quando percebemos que as
organizações políticas mundiais levaram 118 anos (Um século e quase duas
décadas), para reconhecer que elas estavam certas. Por isso, o dia 08 de março
é a ocasião para celebrar - tornar célebre a dignidade da mulher, mas também
para reafirmar o seu compromisso com a teimosia cívica, reivindicadora dos
direitos civis, políticos e sociais que lhe são cotidianamente negados.
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