Epitácio Rodrigues
Nos
últimos anos uma sensação de pânico social está crescendo cada vez mais,
sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, graças aos acontecimentos envolvendo
grupos radicais do Oriente Médio que se apresentam como seguidores do islamismo.
Atentados à bomba, sequestros, execuções transmitidas pelos meios de
comunicação e internet tornaram o termo terrorismo parte do nosso vocabulário cotidiano.
Mas o que se deve entender por terrorismo? André Comte-Sponville, filósofo
francês, no Dicionário Filosófico, o
define como a utilização da violência para fins de natureza política contra um
poder estabelecido que não se pode vencer nem por vias democráticas nem pela
força militar. Os terroristas, segundo ele, são combatentes da sombra, na
medida em que não estão presos às leis ou convenções da guerra, não hesitando,
inclusive, em atacar civis ou inocentes, caso julguem necessário para atingir
os seus objetivos.
Para
Leonardo Boff, teólogo brasileiro, o terrorismo é uma violência espetacular
praticada com o propósito de ocupar as mentes das pessoas de medo e pavor. Não
se trata apenas da violência em si, mas do seu caráter espetacular, capaz de dominar
as mentes de todos, ativando o imaginário social e internalizando o medo nas
pessoas. Por isso, os atos terroristas, normalmente, possuem esse caráter
espetacular, que evidencia a sagacidade de seus feitores e gera a estupefação
social; são realizados por pessoas anônimas, promovendo assim uma desconfiança
generalizada, um medo constante e uma distorção coletiva na percepção da
realidade, que torna qualquer situação imprevista um ato de terror em
potencial. Essas
considerações nos ajudam a entender o clima de pânico reinante na Europa, n’alguns
países do Oriente e na America do Norte.
De fato, o combate ao terrorismo tem desafiado as
grandes potências europeias e americanas que, mesmo dispondo de sofisticado
serviço de inteligência, não deixam de experimentar uma sensação de pânico e as
razões, além das apresentadas por Boff, podem ser sintetizadas em três ou
quatro desafios. O primeiro deles é que os integrantes desses movimentos não
são mercenários, não fazem guerra ao inimigo por dinheiro, mas por ódio ao
Ocidente e à ocidentalização do mundo. Seus membros são pessoas instruídas a
desde muito cedo ver a civilização ocidental como inimiga de seus costumes e de
sua divindade. Por isso, esse inimigo deve ser combatido. Os radicais, como a
imprensa nos acostumou a chamá-los, não têm medo de morrer por essa causa. Fica
a pergunta: como vencer um inimigo que não vacila frente à morte em nome de sua
causa? O que fazer quando morrer em nome dessa causa é motivo de glória e
estímulo aos demais?
Outra questão é que eles não possuem características
que os diferenciem dos demais seguidores do islamismo. Podem passa-se por uma
pessoa piedosamente seguidora dos preceitos de fé religiosa sem levantar
maiores suspeitas. A resistência no tocante à política de imigração também tem
muito de proteção contra esse inimigo sem fisionomia definida. Para deixar a
situação ainda mais complexa, inúmeros jovens europeus e norte americanos estão
aderindo a esses grupos radicais.
Porém, de todas as dificuldades, a mais desafiadora
é que os grupos radicais funcionam, se comportam de maneira similar ao velho
preceito da Hidra de Lerna: “corte uma cabeça e duas novas nascerão”.
Em suma, estamos presenciando uma “guerra” das
grandes potências europeias e americanas contra o terror dos radicais
islâmicos, marcada por medo, ódio e fanatismo. Nesse meio fica a sociedade
civil em pânico por causa de um inimigo que é potencialmente imprevisível, na
medida em que pode ser qualquer um e em qualquer esquina.
Referência bibliográfica:
BOFF, Leonardo. Fundamentalismo,
terrorismo, religião e paz. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009;
COMTE-SPONVILLE, Andre. Dicionário Filosófico. 2ª ed. São Paulo:
WMF Martins Fontes, 2011.
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