Epitácio
Rodrigues
Você já parou
para se perguntar, por exemplo: “o que torna um objeto uma obra de arte?” ou “qual
a relação entre forma e conteúdo num a obra de arte?”; ou se “uma obra de arte
nos põe em contato com a mente do artista?”; “por que atribuímos tanto valor à
obra de arte?”; “O que explica o caráter especial da experiência estética?”; ou
se “dizer que um objeto é belo relata um fato a respeito do objeto?”; “ou
expressa um sentimento do sujeito?”; “O que é o belo?”[1]
Essas são
algumas das inúmeras questões levantadas por um ramo específico da Filosofia
chamado de Estética ou Filosofia da Arte, que se dedica ao
estudo da Arte, da experiência estética e da relação da arte com a sociedade,
com a política e com a ética etc. Trata-se de um ramo novo, desenvolvido a
partir de meados do século XVIII. Isso não se significa que temáticas ligadas à
arte não tenham sido abordadas por nenhum filósofo antes desse período, pois as
questões referentes à arte são tão antigas quanto a própria origem da
filosofia. Apenas se considera que a partir do referido século os problemas
filosóficos relativos a esse tema passaram a ser analisados mais sistematicamente,
dando início a uma disciplina nova no interior da tradição filosófica.
Nesta aula, a
nossa intenção é apresentar o conceito de Estética e sumariar os primórdios
dessa parte da filosofia. Seguiremos os seguintes passos: inicialmente apresentaremos
a origem da palavra e o contexto no qual ela foi inserida na investigação
filosófica; depois, colocaremos para o aluno dois conceitos de Estética extraídos
de livros didáticos propostos para o Ensino Médio e explicitaremos os elementos
que compõem essa definição.
Comecemos então
pela palavra Estética. Sobre ela é necessário fazer duas observações. A
primeira é que seu uso não é exclusivo da filosófica. Na arte e no dia-a-dia,
usa-se esse termo para se referir à beleza. A segunda observação, que esclarece
a primeira, é a seguinte: estética é uma forma aportuguesada do termo grego aísthesis, que significa “conhecimento
sensorial ou efetivado pelos sentidos”, “experiência”, “sensibilidade”. Como explica
Rufinoni, “aísthesis, em grego, é uma
palavra que remete aos sentidos, ao que conhecemos por meio dos sentidos, os
cinco sentidos, ou seja, sensibilidade em uma acepção bastante restrita,
referente àquilo que nos chega a partir do corpo, das sensações”.[2] Noutras
palavras, inicialmente esse termo não teria nenhuma ligação com a Filosofia, já
que esta lida com o conhecimento racional, enquanto a estética valoriza o
conhecimento sensitivo.
Será graças ao
filósofo alemão, Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762), que a palavra Estética passará a fazer parte do vocabulário
filosófico, sobretudo a partir de 1750. De fato, na história da Filosofia
costuma-se atribuir a ele a criação da Estética moderna[3],
enriquecendo assim a filosofia como essa nova área do conhecimento, uma vez que
foi o primeiro a ministrar um curso de estética numa abordagem filosófica, em
1742; mas, sobretudo por se dedicar ao estudo filosófico da formação do gosto e
os fenômenos ligados à compreensão da experiência artística, na obra intitulada
exatamente Aesthetica e publicada em
1750.[4]
Hegel
apresenta em poucas palavras, o processo de consolidação desse termo na
literatura filosófica europeia:
Foi Baumgarten quem denominou de estética a ciência das sensações, está
teoria do belo. Só aos alemães esta palavra é familiar. Os franceses dizem théorie des arts ou dês belles lettres. Os ingleses incluem-na na critic. Os principais críticos de Home gozaram de grande voga no
tempo em que este autor publicou a sua obra. Na verdade, o termo estética não é o que mais propriamente
convém. Já se propuseram outras denominações – “teoria das belas ciências”,
“das belas-artes” – que não foram aceites e com razão. Empregou-se também o
termo “calística”, mas do que se trata é, não do belo em geral, mas do belo
como criação da arte. Conservemos, pois, o termo Estética, não porque o nome nos importe pouco, mas porque este
termo adquiriu direito de cidadania na linguagem corrente, o que é já um
argumento em favor da sua conservação (HEGEL, Estética, 1999, p 34).
Agora que já
sabemos que existe uma parte da filosofia que se dedica ao estudo da arte, como
você responderia se lhe perguntassem o que, filosoficamente falando, se deve
entender minimamente por Estética? Para auxiliar nessa tarefa, vamos apresentar
dois conceitos de estética e, em seguida, analisar os seus elementos
constitutivos. O primeiro extraído do livro Filosofando,
no qual as autoras afirmam: “sob o nome estética enquadramos um ramo da
filosofia que estuda racionalmente os valores propostos pelas obras de arte e o
sentimento que elas suscitam nos seres humanos”[5]. A
outra, extraída do livro Um outro olhar,
no qual Sonia Maria Ribeiro de Souza assim se posiciona:
A estética é a disciplina filosófica que
se ocupa com a investigação racional do belo e com a análise dos sentimentos
por ele provocados. À medida que a arte passou a ser entendida como canal de
expressão da beleza e do belo, também passou a ser alvo das reflexões
estéticas. Dessa maneira, o belo, a arte, as emoções estéticas, os sentimentos
estéticos e os juízos estéticos são temas presentes nas discussões e
especulações da área da filosofia denominada estética (SOUZA, 1995, p. 210).
Analisando as
duas definições, podemos perceber que ambas estão de acordo sob alguns pontos:
1) a estética é uma disciplina ou ramo da filosofia; 2) que seu estudo ou
análise é de caráter racional; 3) que o objeto de estudo é a arte, seus valores
e os sentimentos que ela provoca nos sujeitos. Com relação ao conceito de
Souza, ao afirmar explicitamente que a estética
“se ocupa com a investigação racional do belo”, ainda que acrescente
mais abaixo: “o belo, a arte, as emoções estéticas, os sentimentos estéticos e
os juízos estéticos”, pode dar e entender que é o belo e não a arte o objeto de
estudo dessa disciplina. Nesse caso, faz-se oportuno lembrar a advertência de
Maria José Justino, segundo a qual, “o belo pode ser um dos atributos da arte,
mas não é o único, tampouco o mais importante. O feio também pode ser arte”.[6]
Mas isso é assunto será desenvolvido na próxima aula.
Por agora,
podemos dizer, com base no caminho percorrido até aqui que, frente à questão
Filosofia da arte ou estética: o que é isto?, o aluno estará em condições de
dizer minimamente que se trata de um ramo da filosofia que estuda racionalmente
o complexo universo da arte e os sentimentos e valores que ela provoca e evoca
nos seres humanos que a produz e naqueles que a apreciam.
Referencia
bibliográfica:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. &
MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando.
5ªed. São Paulo: Moderna, 2013.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Estética: a idéia e o ideial. In: Hegel.
Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova cultural, 1999.
GARDNER, Sebastian. Estética. In:
Compêndio de Filosofia. (org. BUNNIN, Nicholas e JAMES, E.P. Tsui.). São Paulo: Loyola, 2002.
JAPIASSÚ, Hilton & MARCONDES,
Danilo. Dicionário Básico de Filosofia.
4ª ed. São Paulo: Jorge Zahar editor, 2006.
JUSTINO, Maria José. A admirável complexidade da arte. In: Para
Filosofar (Vários autores). São Paulo: Scipione, 2007, pp. 265-325.
RUFINONI,
Priscila Rossinetti. Filosofia da arte e
estética: um caminho e muitos desvios. In: FILOSOFIA: ENSINO MÉDIO. Coord.
Gabrielle Cornelli, Marcelo Carvalho e Márcio Danelon. Brasília: MEC, Sec.
Educ. Básica, 2010 (Col. Explorando o Ensino; vol. 14).
SOUZA, Sonia Maria Ribeiro. Um outro olhar. São Paulo: Editora FTD,
1995.
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